terça-feira, 23 de setembro de 2008

Primeiro dia de escola

A Eileen Barbosa, do blogue "soncente" deixou um desafio para descrevermos o nosso primeiro dia de escola. Eu procurei lembrar e vou deixar também aqui o que lá escrevi:
Xiii! Há tanto tempo! Precisamente, vai fazer 54 anos em 7 de Outubro próximo. A minha mãe foi levar-me à aula da D. Olinda, onde eu ia ser a aluna mais pequenina. Só deveria entrar no ano seguinte, mas os meus pais tinham decidido pagar não sei que taxa, que lhes permitia mandarem-me para a escola um ano mais cedo, ou seja, antes de completar os 6 anos, o que só iria acontecer na primeira metade do ano seguinte. A aula era mista e tinha mais de 40 alunos e alunas. A aldeia era pequena e eu conhecia-os a todos, embora não costumasse brincar com eles. Por um lado, era mais pequena, por outro lado, eu vivia num tipo de “gueto” em que não me era permitido conviver, senão com as crianças da mesma "igualha", ou seja, o irmão, os primos e primas e... nada mais. Mas costumava ver passar as outras crianças e admirá-las a brincar na eira em frente da minha casa. Com o nariz esborrachado na vidraça e enquanto ninguém dava por isso lá em casa, seguia com os olhos as brincadeiras do pião e da bola, do saltar à corda e outros folguedos que me estavam vedados, já que eu era a maior dos da minha "igualha" e não conseguia meter os mais pequenos, em brincadeiras como essas. Por isso, pensava eu, que ir para a escola iria permitir-me brincar com os outros, ser uma deles. Não sabia que eles não me aceitariam nunca. E, nessa altura não compreendi e não sabia o que fazer e, por isso, iniciei um caminho que, durante muito tempo e talvez para sempre, me afastou e afastou, até não saber nada deles, apesar de continuar a ir à aldeia em que cresci e fiz toda a escola primária, sentindo-me sempre sozinha e diferente, por razões das quais nada sabia e que hoje, e desde há muito, vejo e sinto como completamente sem razão, portadoras de sentimentos de inadequação e fonte de sofrimento. Só para mim?

4 comentários:

Sérgio Ribeiro disse...

História vivida, e bem contada. Com nostalgia e pungência. O sofrimento da diferença, da segregação, inexplicável e inexplicada... porque não tem razão de ser, a não ser a falta de razão que torna os humanos não irmãos, primos, semelhantes, mas desiguais, diferentes. No estatuto social, no sexo, na cor!
E quantas vidas se consomem, se esgotam, sem perceberem porque não perceberam, ou porque apenas o percebendo tarde demais e já irremediavelmente.
Gostei de te ler.

O teu blog está a ficar giro!

mdsol disse...

OHhhhhhhh Com que então...
E andavas tu cheia de "mesurices" quanto a começares a escrever... Gostava de fazer um comentário mais "aturado", mas não sou capaz! Vá lá saber-se porquê! Se calhar porque, à minha moda, escrevi algo muito parecido. Só que a minha era Graciela...
Beijos de como eu te entendo!
:)))

cristal disse...

Obrigada Sérgio. Obrigada Maria. É bom ter "ecos" destes ainda mais vindos de vós!!! Bjs

M. disse...

Sabes o que me aconteceu no meu primeiro dia de escola? Fiz chichi na sala porque não fui capaz de pedir para ir à casa de banho.