quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Para lembrar...



Por causa disto fui buscar o que abaixo se segue, escrito em 1995, por uma pessoa muito querida. A minha mana M.

Ai o bergalho do moço

Todo farsola, o pilão,

Pôs um nagalho ó pescoço

E lá foi p’ró S. João


Andou por lá na 'sterroa

Só à noite é qu’aparceu

Troixe um saco de rosquilhos

E nem siquer um me deu


Arreneguei-me co’ ele

Por ter sido assim lambão

Acertei-le c’um 'stadulho

Arrodilhou-se no chão


O mafarrico do moço

Assim, p’ra se desculpar

Dixe-me que 'stabo rijos

Muito ruins de rilhar


Ainda tinha um chesinho

E lá me deu a provar

Serviu-me d’apeguilho

Mesmo antes do jentar


Como à sede sou atreita

Sinti-me logo ‘sganada

Peguei num copo e bubi

Uma grande estarraçada


Fiquei logo agoniada

É qu’im bez d’auga, era binho

Comecei a estrebangar

Perdi os socos e o tino


Fiquei meia desadreita

Só queria enguedelhar

C’o meu Zé, que ó ber isto,

Começou-m’ arrumedar


Pinchei-lhe treda, p'ra cima

Fiz dele meu inxergão

Ele ficou adoudado

‘spetou comigo no chão


Juntaro-se as tanateiras

Q'ando oubiro o rebuliço

Nisto, num bi qu’o meu Zé

Tinha lubado sumiço


Fui d’reita para a cozinha

Q’eu sempre fui zabaneira

Incontrei-o ‘sterlicado

No buraco da pilheira


Atupi-o lá co’a cinza

Sentei-me no preguiceiro

E de lá o bi sair

Agarrado ó trefogueiro


Binha tão arrumelado

Que m’escagalhei co’ riso

Ele meio derreado

Inda subiu ó caniço


‘scanchado num canhoto

Os dentes esterrincou

Eu dei-le uma rodilha

E co’ela s' alimpou


Chegou o tredo do moço

Binha todo tesicado

Qu’as bedeiras le dixero

Qu’o pai se tinha ‘smoucado


Pegou-le às carrachoilas

Ajudou-o a ir p’ró chão

Já num s’inchergaba nada

Acendi o lampião


Pegaro ópois na caçoila,

A do arroz da bessada,

Comero-nos dois à farta

Num me deixaro já nada


Fui à talha, às azeitonas

À suã, à salgadeira

C’uma miola de pão

Eu lá matei a lazeira


Fui-me deitar, de catrambias

Inda do binho bubido

A cama 'staba desfeita

Alguém le tinha bulido


Num bi nenhum e, tropêça

Fui ber ó quarto fundeiro

Lá stabo eles c’os chabelhos

Metidos no trabesseiro


A noite foi pequerricha

P’r áquilo qu’eu precisaba

Dormi mal porque sonhei

Qu’um jerico me sobaba


Ergui-me de madrugada

E os porcos fui apajar

Um fugiu-me prá leira

Tibe que o ir aqueibar


S’ele fosse p’ró ribeiro

Eu num podia azangar

‘scorregaba com’ó códo

Inda m’ia ‘scabrear


Mas lá o troixe p’lo quelho

E na loja o enfiei

Descalcei as minhas chancas

E o babeiro tirei


Fui a correr para casa

Zorata inda, do serão,

E p’rós três, na sertã grande,

Fiz obos c’um salpicão


Já tinha farto o bandulho

Q’ ando os dois aparcero

Pusero-se a britar nozes

E foi só o que comero


Despois foro p’ró canastro

P’ra debulhar uns feijões

E eu lá fiquei sozinha

A pensar c’os meus betões


Olhei ó redor da casa

Inda zoeira, da piela

Barri o cisco às caleiras

Ópois tratei da barrela


Agarrei-me ó ingaço

Fui p’ró campo, p’ró cabouco

‘inda chamei o meu Zé

Mas ele fez qu’era mouco


‘staba agarrado ó mongal

Só a fazer que malhaba

O moço ‘staba co’ ele

E num queria mais nada


Passei na minha comadre

P’rá rogar, para a cegada

Dixe-me que num podia

Qu’ andaba meia enjorcada


Ópois pôs-se a preguntar

Em que pé tinha ficado

Aquela ‘stória do binho

E se o Zé tinha adoudado


Homesêssa! O qu' é isto?

Com bruxedos eu num posso

São cousas cá entre mim

E o meu Zé e o meu moço


Fiquei muito arrenegada

Saí de lá a cismar

E co’as tripas embrulhadas

Sem me poder ajoanar


Fui jonguer a nossa junta

E pu-la ó carro ó despois

Sentei-me numa das chedas

E fui chamar p’los meus dois


A modos, falei co' eles

Amostrei-me arrependida

Olharo um para o oitro

Inda c’oa tromba trocida


Atão o meu Zé pegou

Acertou-me c’um chamiço

E dixe: Pronto, mulher

Num bamos mais falar disso.

7 comentários:

mdsol disse...

Uauuuuuuuuu

Estão o máximo.

Clap clap clap clap!

Beijos para ti e para a M.

:)))

Anónimo disse...

Soube-me bem dar umas boas gargalhadas com este texto.

Justine disse...

Mas que grupinho vocês fazem!!Para quando um espectáculo???

mdsol disse...

Oube lá, tu num adregas a ajuntar umas palavritas, por mor de fazeres uns posts?!


Ou-ou, raça de rapariga que parece que estás impechada!

:)))))))))

poetaeusou . . . disse...

*
gostei de ler,
,
recordei uma cegada
que escrevi em tempos,
com temas Nazarenos,
Mar, Peixe, Hábitos e Costumes .
,
conchinhas,
,
*

bettips disse...

Muito giro! A maior parte desconhecia, francamente. Ainda bem que alguém se "alembra" e "à" alembranças...
Bjinhos

Zélia Guardiano disse...

Adorei!!! Um show!!! Diverti-me demais...
Devo até agradecer: Obrigada!
Um forte abraço