sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Fazer o linho

O linho precisa de muita água, de muito trabalho e de uma dedicação toda especial. Semear, regar, mondar, tornar a regar e a mondar, até atingir a maturidade, sem ervas daninhas que estraguem a sua qualidade. Depois, é tirá-lo da terra, secá-lo ao sol e, em seguida, é massado antes de voltar à água corrente de uma fonte ou regato, onde fica alguns dias, a fim de que a palha seja fácil de soltar da fibra. Retira-se depois, escorre-se, volta a estender-se ao sol, até ficar completamente seco. A partir daí, passa para o sedeiro onde se separam os tomentos, a estopa e, finalmente, o linho. Dantes, todas as partes eram aproveitadas, destinando-se os tomentos, depois de fiados e tecidos, a fazer sacos grossos onde se guardavam cereais e leguminosas secas. A estopa, era também fiada e tecida e destinava-se a roupas e mantas grosseiras, muitas vezes tecidas com tiras de tecidos usados, porque tudo era reciclado e escrupulosamente aproveitado. Também servia, a estopa, para a trama de tecer com lã das ovelhas, uma tela grossa chamada serguilha, usada para a roupa mais grosseira. Finalmente, do sedeiro saía o linho mais fino, que passava para a roca e era fiado, com grande perícia de dedos e saliva da fiandeira já que, para o fio sair bem calibrado e igual, era necessário fazê-lo correr da roca para o fuso com movimentos certos e corridos, a que os dedos molhados ficavam mais sensíveis. Do fuso, passava para o sarilho, que o tornava em meadas. Estas meadas eram, depois, lavadas e postas a corar ao sol durante dias e, por vezes ainda, no inverno, a algumas barrelas antes de, depois de consideradas com brancura suficiente, irem finalmente para a preparação para o tear. Esta consistia, antes de tudo, em transformar meadas em novelos mais fáceis de manejar e, para isso, utilizava-se a dobadoira (ou às vezes braços de ajudante) para segurar a meada e dobar o fio. Em novelos, ia para as mãos da tecedeira que o transformava em peças de pano cru. O trabalho da tecedeira será o meu próximo tema pois, acho inda ser capaz de me lembrar de todos os passos que vi (e penso ter "ajudado") repetidas vezes, durante a minha infância.
Fotografias: www.bestanca.com/.../CaminhadaSeraoValeBestanca

8 comentários:

jorge esteves disse...

Uma bela (boa) lição que vou seguir com toda a atenção!...

abraços!

Justine disse...

Continua a recordar, amiga, para que não se esqueçam esses gestos primordiais de que a vida era feita, e para que se perceba porque razão o linho não é apenas mais um tecido, mas um tecido com alma!

mdsol disse...

Lembro-me de pouca coisa! Mas há uma de que me lembro.... E não garanto que fosse com linho... Acho que era com lã mesmo: quando me "alugavam" os bracitos ...Ouvi alguns ralhetes porque: não dava atenção ao que estava a fazer... rsrsrs
:))

mdsol disse...

Dona menina? Quando se digna escrever mais? Balhamedeus!
:))

Tinta Azul disse...

Porque hoje é dia 27 tens, não flores de linho, mas de magnólia n' aluaflutua.

Muitos parabéns com um beijo branco de linho.

:)

Manuel Veiga disse...

e depois da colheitas...

as "fiadeiras " de linho. em noites enluaradas (e quentes) do Outono - a festa e o trabalho colectivos.

gostei de recordar.

(peço desculpa pela intromissão.mas vejo por aqui "rostos" amigos.)

Manuel Veiga disse...

ao que parece é "fiandeiras" que se escreve. sorry

M. disse...

Adorei esta lição.